05/02/2025 02:22

Search
Close this search box.
Search
Close this search box.

Eu te amo, tia Margarida!!!

A crônica, de minha autoria (Luciana Máximo), traz um rascunho da realidade nua e crua. O alcoolismo é uma doença.

Não, não acredito, tia Margarida, que nunca mais a ouvirei, seja onde for: na praia, num bar, na igreja, na capela ou na padaria. “Lu, como eu te amo, minha sobrinha querida!!! Você tá morando aonde, Lu? Lu, cadê Ana Cláudia?”

Eu recebia com gratidão seu amor, que sei que era puro, e sei do tamanho dele porque o meu por você sempre foi intenso, único e sincero. A cada abraço, a cada beijo seu, tia.

Eu não me lembro, tia, de um momento sequer em que critiquei a doença que lhe consumia. Não se tratava da minha vida, a vida dura da senhora, tia. Suas memórias não me pertenciam. As dificuldades que passou nunca foram recortes da minha vida.

Amanhecer hoje sem a senhora entre nós me deixa com o coração picado, feito coentro cortado para moqueca.

Poxa, tia Margarida!!!

Eu sei que a senhora não tinha consciência de que aquele maldito vício um dia poderia acabar com tudo, como destruiu seu casamento, acabou com a sua saúde e destruiu sua vida.

Eu sei, tia, que muitas pessoas hoje, hipócritas, vão criticar a senhora por ter bebido durante tantos anos, por ter arrumado barraco tantas vezes, mas a senhora não tem mais que ouvir ninguém falando nada. A senhora se aproximou de Deus e estava tão perto, na Casa Dele, se reunindo com outros irmãos. Estava buscando ajuda e ficou nove meses se mantendo forte e distante do vício. E por ironia do destino, logo no dia do aniversário de Jesus, naquele último Natal, o copo foi o gatilho, e logo depois veio o decreto final.

Dentro de mim, hoje, só há um espaço imenso, uma cratera gigante no meu peito, me deixando espatifada em saber que tantas pessoas estão com a mesma doença, sem forças para vencer um desejo insano e destruidor. Ah, tia Margarida, que dor!

Infelizmente, tia, muitas pessoas vão se despedir de seu corpo e cochichar entre elas: “Se não tivesse bebido, não tinha morrido.” Mas essas pessoas, tia, elas não sabem o que é alcoolismo. Não têm informação e nem a dimensão de que não se trata de falta de vergonha, não se trata de não querer, é algo avassalador, algo destruidor. São milhares de famílias mutiladas por esta desgraça de vício maldito.

Pra mim, não importa, tia, se foi cirrose que lhe tirou a vida. Se tivesse morrido do coração, se fosse diabetes, se fosse pneumonia, nada, nenhuma causa me aliviaria a sua partida.

Pra mim importa muito saber que a senhora teve nove filhos e passou muitas dificuldades ao longo de 33 anos, quando sequer conhecia um copo de cachaça. Mas, na ocasião, meu tio bebia, bebia tanto que deixava nos botequins cada tostão que recebia.

Neste momento, uma mistura de saudade já regaçando minhas entranhas, e memórias que vêm e vão, das lutas que teve, a ponto de permitir que as meninas ainda meninas saíssem de casa em busca de trabalho e sustento nas casas de família, sem que suas infâncias fossem vividas em sua intensidade. Simone, prima querida, tanto orgulho de você ter acolhido todos, ter dado casa, suporte e realizado sonhos. Prima, sei de sua dor, sei do seu amor, sei do seu valor! Cristina, Nilzani, Ângelo, todos os primos, recebam meu amor.

Ah, tia Margarida, eu sei que a bebida que a levou embora desta vida teria levado o tio Jonas se ele não tivesse tomado consciência e entendido que aquele maldito vício era uma doença que o mataria, pois já tinha destruído o vosso casamento.

Tio Jonas, tão querido, abandonou o álcool e recomeçou toda a vida. Tá muito bonito hoje, não tanto como antes, galanteador, passeando no Canto dos Sedanos, lá nas roças de Leonel, com seu robusto cavalo. Em sua juventude, acabou conquistando a senhora aos 14 anos. Ainda menina, entregou-se ao tio e com ele construiu a sua família. Que história que já foi linda, tia!

Poxa, tia Margarida, eu sabia que a porcaria da bebida um dia poria fim à sua triste vida sofrida. Mas quem sou eu para julgá-la? Por algumas vezes, dividi com a senhora uma inocente dose, que nunca terminava em uma só.

Aos 73 anos, a senhora se despede de nós, e, de uma vez por todas, esta maldita doença acaba com tudo, deixando-nos despedaçados por não termos conseguido fazer nada que pudesse ter colocado um fim antes de sua partida, como o tio Jonas fez e recomeçou. Até logo, tia. Eu te amo! Vou te amar para sempre!!!

Margarida de Almeida Sedano é tia da jornalista Luciana Maximo. Ela faleceu na tarde desta segunda-feira, 13, no Hifa – em Cachoeiro de Itapemirim. O corpo está sendo velado na Igreja Assembleia de Deus do bairro Alto Amarelo, em Cachoeiro de Itapemirim. O sepultamento será as 13h00, no Cemitério do Coronel Borges.

O post Eu te amo, tia Margarida!!! apareceu primeiro em Jornal Espírito Santo Notícias.

Fonte do Conteudo: Luciana Máximo – www.espiritosantonoticias.com.br

VEJA MAIS

Polícia prende dupla que matou 3 pessoas em bar de Porto Alegre em 2022

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul prendeu na última terça-feira (3) dois indivíduos…

Haddad diz que queda do dólar e safra devem conter preço dos alimentos

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou nesta terça-feira (4) que a pressão sobre os…

Processos por drogas para uso pessoal tem menor nível em 5 anos, diz CNJ

A Justiça brasileira recebeu o menor número de novos processos relacionados à posse de droga…