Quem passa pela Rua Jardim Botânico já nota um movimento diferente nos jardins do Parque Lage. O casarão centenário, cartão-postal do parque, virou um grande laboratório de restauro. Paredes, colunas e pinturas decorativas estão sendo recuperadas numa intervenção que o Governo do Estado classifica como a maior dos últimos cem anos no local. O investimento, de R$ 21,4 milhões, é da Secretaria de Infraestrutura e Obras Públicas (Seiop) e promete devolver o brilho original ao palacete até julho de 2026.
O projeto vai além da estética. A obra inclui modernização elétrica e hidráulica, climatização, novo sistema de combate a incêndios e melhorias de acessibilidade e iluminação — um conjunto que pretende equilibrar preservação e funcionalidade. “Este é um investimento que une respeito à história e olhar para o futuro. Estamos reformando o Palacete do Parque Lage mantendo a sua essência, garantindo que esse patrimônio histórico continue vivo para as próximas gerações, valorizando a cultura e fortalecendo o turismo da nossa cidade”, afirmou o governador Cláudio Castro.
Nos salões do casarão, o trabalho é de paciência e precisão. Restauradores removem camadas de tinta acumuladas ao longo das décadas para revelar as cores e desenhos originais. Com bisturis, espátulas e solventes em gel, a equipe liderada por Alice Torres atua quase como cirurgiã, buscando entender o que ainda resiste sob o reboco. “Aqui na biblioteca, a gente encontra uma pintura decorativa original, que é a que estamos tentando resgatar. São diversas camadas de tinta e massa sobre essa pintura, e estamos fazendo a remoção completa desses materiais para identificar o estado de conservação e definir o melhor procedimento”, explicou a restauradora.
Do lado de fora, a atenção é a mesma. As pedras e o concreto da fachada passam por uma limpeza em etapas: primeiro com água e sabão neutro, depois a seco. O restaurador Leandro da Silva conta que o processo foi cuidadosamente testado antes de ser iniciado. “A importância do trabalho de restauração é grandiosa tanto no sentido histórico quanto na memória do patrimônio. Fizemos diversos testes até chegar ao material que está sendo utilizado atualmente”, disse.
A restauração também reacende o interesse pela história do lugar. Tombado pelo Iphan, o palacete foi construído no início do século XX e remodelado por Henrique Lage na década de 1920 para agradar a esposa, a cantora lírica italiana Gabriela Bezanzoni. O espaço se tornou palco de festas, saraus e encontros da elite política e cultural da época. “Henrique Lage era um político importante e ele e a Gabriela tinham influência na sociedade. Este local cultural também conta parte da história da política brasileira”, lembrou a bibliotecária da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rubia Silva.
Com cerca de 1,3 milhão de visitantes por ano, o Parque Lage é hoje um dos dez pontos turísticos mais visitados do Rio.
Fonte do Conteudo: Victor Serra – diariodorio.com