Ainda é madrugada. O dia não clareou. Estamos na BR-101, e as primeiras carretas começam a surgir. Seguimos para a Santa Casa de Misericórdia. A cirurgia de Ana foi marcada para este 31 de janeiro.
Dentro de mim, há um turbilhão de sentimentos e sensações. Não consigo definir se é preocupação, medo, angústia, expectativa ou esperança. É uma mistura insana que mexe com meu estômago.
Acordamos às 3h. Não, eu não estou ansiosa. Sei que a cirurgia é delicada e longa. Ana vai substituir a prótese de quadril.
Se em mim há essa profusão de sentimentos, nela o maior medo é não voltar da anestesia. Ontem, ao abraçá-la, chorei ao imaginar seu temor.
Chegamos pouco depois das 5h30 e fomos direto à recepção do pronto-socorro.
Aqui, o movimento é intenso. Pessoas entram e saem o tempo todo. Os funcionários, exaustos, encerram o plantão. Há gente por todos os corredores: médicos, assistentes, carregadores de caixas, técnicas, enfermeiros, vigilantes, pacientes. Vieram de muitos lugares, cada um com sua própria dor.
Dentro do hospital, tudo funciona em sintonia. Profissionais altamente capacitados fazem seu trabalho. De repente, surge alguém de jaleco com uma prancheta nas mãos, enquanto a moça da limpeza passa ao lado, cumprindo sua função essencial.
Estamos na porta do centro cirúrgico: eu, Daiane e Denise.
Daiane não sossega. Senta, levanta, deita, vai ao banheiro. Começa a divagar sobre três caminhas, ar-condicionado e comida. As pernas não param. E ela não cansa de falar da dentadura da mãe, que precisou ser retirada antes da cirurgia. Para evitar que se perdesse, Daiane a escondeu bem na bolsa, temendo uma bronca depois. Afinal, a dentadura vale mais do que um prêmio da Mega-Sena acumulada.
Denise, por sua vez, não se preocupou com a alimentação. Ignorou o fato de que Coca-Cola é um dos piores alimentos e, para piorar, comprou um pastel daqueles fritos, com massa grossa. Eu confesso: também comi um. Já que o pecado foi cometido, que diferença faz? E você, que lê esta crônica, não tem nada com isso.
Denise está acompanhando Alex. Que coisa bonita. Ela está disposta a ficar no quarto com ele até a alta. Alex operou o joelho. É um filho maravilhoso, que cuida da mãe idosa, com Alzheimer. Talvez seja por isso que Papai do Céu tenha enviado Denise para ajudá-lo. E é inspirador saber que ele largou o trabalho no Rio para morar em Cachoeiro e cuidar da mãe.
Estar aqui, conhecendo novas histórias e observando o ritmo do hospital, me ensina e me faz refletir sobre o quanto precisamos uns dos outros. Todos trabalham intensamente. Há quem esterilize o bisturi, quem aplique o soro, quem corte a carne, quem dê os pontos, quem limpe o sangue. Eles entregam tudo de si para que os pacientes fiquem bem. Para esses profissionais, desejo toda a luz que houver, sabedoria e vida longa.
Mas agora não vou negar: estamos aflitas, à espera de notícias. O calor toma conta de todos os espaços.
Caminho pelos corredores, respondo mensagens e oro.
Não, eu não estou com medo. Acredito que meu Deus é o cirurgião dos cirurgiões, e os médicos estão preparados para executar com maestria seu trabalho.
Agora passa uma moça com xícaras e café. Já são 10h07. Ana ainda está em cirurgia. Mas eu creio: já deu tudo certo.
Depois trago mais notícias. Por ora, continuo na porta do centro cirúrgico. Sextou na Santa Casa de Misericórdia…
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Fonte do Conteudo: Luciana Máximo – www.espiritosantonoticias.com.br