Na Igreja Católica, o Sábado Santo é o dia em que o tempo desacelera. Depois da dor exposta da Sexta-feira da Paixão, o sábado parece suspenso, como se o mundo prendesse a respiração. É um dia estranho: nem luto completo, nem festa. Jesus está morto. O túmulo está lacrado. A Igreja se cala.
As igrejas, aliás, estão vazias. O altar está nu, sem toalhas, sem flores, sem luz. O sacrário está aberto, vazio. Não se celebra missa desde quinta feira à noite. Não há procissões nem cânticos. O silêncio ocupa o espaço todo — não como ausência, mas como espera. É um silêncio denso, que fala. Que pergunta: “E agora?”
Os fiéis passam o dia em quietude. Alguns rezam em casa, outros visitam a igreja apenas para se sentar um pouco, olhar o altar despido e sentir a ausência. É o único dia em que a Igreja para de falar — e deixa que a ausência de Cristo diga tudo.
Mas o Sábado Santo não é só espera. É preparação. Porque quando cai a noite, a Vigília Pascal começa. Lentamente, o fogo é aceso, a luz entra na escuridão, o Aleluia volta à boca do povo. A morte perde o controle. Cristo ressuscita — e com Ele, toda a esperança que parecia morta.
Durante o dia, parece que nada acontece. Mas é nesse “nada” que tudo se segura. O silêncio do Sábado Santo é o fio entre a cruz e a ressurreição. Sem ele, a Páscoa seria apenas barulho. É preciso parar para que a alegria tenha sentido. É preciso o vazio para que a luz impressione.
E por isso, o Sábado Santo continua sendo um dos dias mais estranhos — e mais profundos — do calendário cristão. O dia em que o céu parece mudo, mas o coração escuta.
Por: Pe. José Carlos Ferreira da Silva
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Fonte do Conteudo: Luciana Máximo – www.espiritosantonoticias.com.br